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quarta-feira, 22 de junho de 2011

Transversais

O cinema e a teoria social de George Simmel: O diálogo com Walter Benjamin

Por Conceição Gomes especial para biblioo
George Simmel se coloca como um pensador que antecipou a questão da tecnologia e da tecnicidade como ponto fecundo para a modernidade, sobretudo porque erigiu em toda a sua obra uma teoria da cultura. Para tanto, ao investigar o fenômeno tecnológico, utilizou-se de percepções pioneiras, tais como o ceticismo à ideologia do progresso, à alienação, ao cientificismo, ao historicismo, como as formas de reificação. Simmel conjugou as análises filosóficas e sociológicas aos problemas tecnológicos, pois reconheceu a tecnologia como parte integrante da cultura moderna. Para José Luís Garcia “é certo que pode ser objetado que Simmel não dedicou um estudo particular à questão da tecnologia, mas os desenvolvimentos e as implicações da ciência e da tecnicidade moderna têm uma presença importante em muitos dos seus trabalhos centrais, na medida em que a compreendeu como parte integrante e característica da cultura moderna que se expande para esfera da religião e da arte, da vida urbana e da economia.”
Simmel é considerado um pensador interdisciplinar, sobretudo porque adentrou por temas que eram considerados fluidos e não passíveis de aprofundamentos, por vários pensadores da época, não porque não eram importantes, mas, talvez não seriam controláveis para o modo de pensamento científico do século XIX. A interação e a intersubjetividade incluída na obra deste pensador está fundamentada na idéia de movimento que revela o fragmento, a pluralidade e a imprevisibilidade. João Carlos Tedesco afirma que “[…] por isso seu panteísmo estético como episteme, no qual se entende que cada ponto, cada fragmento superficial e fugaz é passível de significado estético absoluto, de compreender o sentido total, os traços significativos, do fragmento à totalidade.”
George SimmelA valorização destes aspectos aproxima Simmel de Walter Benjamin. Talvez por este último ter sido aluno de Simmel, foi um dos que proporcionou a Benjamin o contato com uma episteme organizada em torno de metáforas. Assim, tanto para um, quanto para outro, a alienação tem profunda relação com a cultura. Memória e Modernidade possuem em comum o fato da redução de valores tradicionais e a geração de descontinuidades recorrentes, resultando nestes autores a noção de tempo perdido e nostalgia que aparece, particularmente, em Simmel, quando este estuda a Metrópole e a Monetarização interferindo na vida mental, nos modos de existir do homem moderno. Como bem constata João Carlos Tedesco “[...] os problemas mais graves da vida moderna derivam da reivindicação que faz o indivíduo de preservar a autonomia e a individualidade de sua existência em face das esmagadoras forças sociais da herança histórica da cultura externa e da técnica da vida.”

George Simmel, Walter Benjamin e a alienação cultural

Com mais de cem anos de existência o cinema é um dos artefatos culturais que disseminam, simultaneamente, subjetividades hegemônicas e de resistência. Não podemos nos referir a ele como elemento artístico, puramente, pois está condicionado aos interesses da indústria do entretenimento que controla e operacionaliza toda a cadeia produtiva dos elementos e etapas da produção cinematográfica. O filme é uma criação da coletividade e para a coletividade. Sua reprodutibilidade técnica está relacionada/subordinada à própria produção. Esta autoriza a difusão em massa para que o produto possa chegar às massas e seja passível economicamente de ser consumido. Porém, faz-se necessário apontar as diversas experiências conhecidas como “cinema de autor”, “cinema autoral”. São aquelas em que o diretor/roteirista e/ou diretor e roteirista expressam suas ideias a partir do uso de linguagens que experienciam novos rumos estéticos e que não estão, necessariamente, a serviço dos produtores e distribuidores que lucram com este mercado; ou, até mesmo, em adesão a governos e às subjetividades em movimento que surgem das relações de poder.

O cinema como partícipe da indústria cultural

Walter BenjaminSabemos, portanto, que não se pode dizer que não haja interferências, seja de indivíduos, instituições, seja de corporações na obra de qualquer autor. Este, por sua vez, é parte integrante da engrenagem social e sua produção artística é atravessada pela maquínica capitalística ou do poder. Afinal, o cinema como partícipe da indústria cultural, sempre esteve intimamente relacionado com a cultura de massas. Walter Benjamin no ensaio A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica lembra que “no interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas se transforma ao mesmo tempo que seu modo de existência.” O que há de fato é a possibilidade de expressão do cinema como arte, nas diversas fases históricas existentes, em conjunturas diversas no tempo e no espaço. Esta possibilidade de expressão não se realiza sem disputas, consensos e dissensos.
Trata-se, então, de colocar em discussão as subjetividades expostas pelo cinema cujo alcance perpassa décadas e países. Tanto como tentativa de criação autoral como coletiva, a obra cinematográfica, o produto final que é o filme traz em todas as etapas de criação modos de subjetivação. Rejeitando a noção de subjetividade como sinonímia de identidade e personalidade, apresentadas de forma dualística (exterior versus interior) carregada pela idéia de verdade, a subjetividade pode ser pensada como formações provisórias de sentidos que se misturam em infindáveis arranjos. Leila Machado concebe os modos de subjetivação como históricos, todavia esta relação é de processualidade. Para esta autora “os modos de subjetivação referem-se à própria força das transformações, ao devir, o intempestivo, aos processos de dissolução das formas dadas e cristalizadas, uma espécie de movimento “instituinte” que, ao se instituir, ao configurar um território, assumiria uma dada forma-subjetividade”.
O que é desvelado nesta passagem é o antigo modo de se pensar a vida de forma polarizada, binária, maniqueísta e que escolhe um dos extremos para coroá-lo com a verdade. A noção de subjetividade, assim entendida, põe em reclusão as subjetividades sob o prisma da esfera privada, do auto-conhecimento (interioridade), do intimismo característico dos discursos burgueses.
Para pensar esta trama é preciso compreender que nós, as instituições, o sistema econômico somos formas que geram, criam sentidos específicos para todas as redes de relação em todos os âmbitos da existência. Nossas nomeações, filiações, gostos, desejos, rejeições e aprovações passam por esta rede de significações que são alteradas pelo jogo de forças existentes no meio social.
Esta perspectiva redimensiona o conceito de poder, deslocando-o de um lugar central, de uma persona detentora do mais absoluto designo. Ele torna-se um exercício, uma relação afastada de qualquer polarização, pois se trata de usos e práticas. Desse modo ocupamos tanto as práticas de dominação quanto de resistências, todas anônimas e movediças. Nossa época engendra expressões que constituí aquilo que chamamos indivíduo, individualidade, homem, mulher, criança, família. Quando acreditamos nestas categorizações, estamos, nada mais do que, enxergando através das lentes de uma época, assim como faz o cinema através da narrativa das estórias contadas pela imagem.

Fahrenheit 451

A Obra Fahrenheit 451de Ray Bradbury, publicada em 1953, período que converge com o auge do Macartismo, foi de início uma produção que se voltou para a crítica daquilo que o autor entendia por uma sociedade desfuncionalizada, cuja característica principal era o individualismo e ausência de vida criativa. Escrito e dirigido por François Truffautt em 1966, o filme homômimo à obra nos apresenta o caráter de vazio das existências que não passam mais pelo aprendizado a partir da experiência. A proibição a qualquer forma de leitura foi uma crítica contundente a televisão na década de 60. Naquele momento, acreditava-se no predomínio de um suporte sobre o outro e o fascínio que causava a difusão da imagem em detrimento da leitura. Sabe-se, hoje, que os suportes podem coexistir, inclusive, para estimular e divulgar obras literárias. O filme de Truffaut apresenta uma atmosfera em que os indivíduos, esvaziados de sentido para sua relação com a vida e com o mundo são suscetíveis a aprendizados mecânicos e desprovidos de criação e interação.
A atrofia da experiência, entendida por Benjamin como a capacidade de narrar a vida através da memória constituída por uma narrativa coletiva e social, vista em Fahrenheit 451, simbolizada pela metáfora do fogo que destrói livros, aí está a função da memória que é anulada em substituição da presentificação que fragmenta as relações sociais e afetivas mais profundas. O esvaziamento do indivíduo e da sociedade faz parte da dinâmica do poder que se apresenta como totalitário. Este exercício do poder gera a melancolia vista em todos os personagens do filmes, com exceção de Clarice, cuja disposição e dinamismo contagia completamente o bombeiro Montag. A incapacidade de narrar suas próprias experiências é fruto da interferência da transformação do mundo pela tecnologia que o Capitalismo conformou em diversas fases históricas. Para ir de encontro a solidão e a melancolia, os habitantes que resistiram ao modo de vida da maioria, resolverão, através da leitura, incorporar as narrativas dos romances, que para eles eram mais significativos, a tal ponto de cada indivíduo representar uma obra e incorporá-la como seu próprio “eu”.
A discussão em torno da tecnologia no filme, ancorada na teoria social de Simmel contribui para que compreendamos que os aparatos tecnológicos são permeados pelas relações de poder subjacentes nas correlações de forças que compõem a sociedade. Simmel percebeu que era importante introduzir a dimensão metafísica, psicológica e cultural junto às análises do Materialismo Histórico.

quinta-feira, 31 de março de 2011

LEITURAS IMPLICANTES





O Sujeito da Educação: Estudos Foucaultianos


Tomaz Tadeu Da Silva



Baseada nas Ideias de Foulcault, Analisa os Pressupostos, as Instituicoes e as Estruturas de Nossos Arranjos Educacionais, Numa Perspectiva Inovadora, Desestabilizadora, Transgressora e Subversiva.

Editora: Vozes

Autor: TOMAZ TADEU DA SILVA

ISBN: 8532613179
Origem: Nacional
Ano: 2000
Edição: 4
Número de páginas: 258
Acabamento: Brochura
Formato: Médio




domingo, 27 de fevereiro de 2011

18º COLE UNICAMP

18º COLE 11 jul.2011


Estimadas/os colegas,

O 18o Congresso de Leitura do Brasil acontecerá entre os dias 11 e 15 de julho de 2011 na Unicamp. Começamos a pensar o evento lançando três propostas de temas, que foram divulgados para todos associados e pessoas que estiveram, historicamente, trabalhando na organização do evento. Os retornos foram excelentes, muitas sugestões nos foram dadas e, principalmente, nos foi animador perceber o carinho, respeito e envolvimento que há com a ALB. Isso nos dá força neste início de caminhada à frente da associação.

O tema do 18o COLE será O mundo grita. Escuta?

Com este tema, pretende-se o entrelace de diferentes linguagens, variadas formas de expressão, superfícies múltiplas que se movimentam e se tocam.

Gritos que soam em dinâmicas e criações de linguagens que leem o mundo: as postagens – cartas, telegramas, cartões postais, torpedos...; as artes – fotografia, música, literatura, teatro, dança, cinema, instalações...; as formas de vida – da infância, da loucura, da velhice, da juventude, da resistência, das relações socioculturais...; as dobras da língua portuguesa – atravessamentos subjetivos, polissêmicos, polifônicos, políticos... Potências do fragmento, da sonoridade, da imagem, da territorialidade, da temporalidade... Potências plurais e singulares, vacúolos e sem-sentidos, contracombates à homogeneização na escuta do mundo. Como gritam?

Nas primeiras reuniões de diretoria, pensamos uma estrutura básica do congresso que compartilhamos com vocês, aguardando sugestões e ponderações. Envie-as para o e-mail: 18colesugestoes@gmail.com.

Pareceu-nos importante, inicialmente, anunciar algumas linhas que perpassam nossa proposta para o evento.

A leitura é uma produção/expressão sociocultural em múltiplas linguagens. Portanto, o congresso pretende abrir-se a essas multiplicidades, além da comunicação oral.

As formas de apropriação de conhecimentos e práticas são mediadas diferenciadamente. Portanto, o congresso busca contemplar distintas mediações com o público.

Os sentidos de ‘acadêmico’ em desfile por um conjunto significativo de congressos podem ser contestados, e buscar alternativas é uma política de singularização que merece ser iniciada.


Sumariamente, o que pensamos para compor com tais linhas:

Dia 11 Dia 12 Dia 13 Dia 14 Dia 15


Manhã Mesa Oficial Atividades Comuns

+ Atividades Específicas dos Eixos (comunicações orais e…) Minicursos

Conferência de

Abertura Conferência de Encerramento

Tarde

Comunicações em outras Linguagens+ Atividades Específicas dos Eixos

(comunicações orais e…)

+ Atividades Comuns

Certificados
1) As comunicações orais significarão, no COLE, as conferências (3 ou 4 no total), e as apresentações de trabalhos associadas aos eixos temáticos que foram organizados no 17o COLE (excetuando-se o Proler). Cada eixo temático, cuja coordenação científica será do coordenador do seminário que existiu até o 16o COLE, selecionará as comunicações orais por demanda espontânea e poderá convidar 02 (duas) pessoas para apresentarem comunicações encomendadas, ou fazerem papel de mediadoras/debatedoras/problematizadoras das comunicações apresentadas. Não haverá mesa redonda. As sessões de comunicação oral (por demanda ou as 02 encomendadas) de um mesmo eixo temático acontecerão ao mesmo tempo. Com isso, criaremos, no 18o COLE, uma horizontalidade entre as comunicações orais.

2) Abriremos um outro eixo, como experiência, ligado à temática do 18o COLE, para abrigar as comunicações em outras linguagens, destinadas aos participantes que proponham trazer para o COLE seus trabalhos que exijam espaços e linguagens distintas da apresentação oral. Tais comunicações, por demanda, também abertas à seleção do comitê científico, serão coordenadas por uma equipe da qual participarão colegas da roda de pesquisadores da ALB. Aqui se incluem as propostas de exposição, performances, instalações, espetáculos que movimentem pensamento sobre o tema do evento. Dentro deste eixo, haverá duas ou três atividades que serão comuns ao evento, à semelhança das conferências. Não se tratará de atividade cultural.

3) Retomaremos o oferecimento dos minicursos com carga horária total de 4horas. Os minicursos, no 18o COLE, especialmente devido ao fato de não termos muito tempo para o pedido de financiamento externo, serão também encomendados a especialistas pelos coordenadores científicos dos eixos temáticos. Nossa idéia é termos cerca de 20 minicursos, com 50 pessoas em cada. Futuramente, se a retomada dos minicursos for uma boa decisão, podemos pensar em deixar os minicursos também passarem por seleção via demanda espontânea. Os convidados para ministrar o minicurso terão financiamento (transporte, hospedagem e alimentação) pelo evento. Não haverá pró-labore.

4) Haverá sessões de leituras públicas de livros de literatura, poesia, pesquisa acadêmica, dentre outros, e leituras de imagens e sons. À semelhança de algumas feiras, nossa proposta é que o público do 18o COLE possa escutar um autor, compositor, cineasta, pintor, ler trechos de seu trabalho, expor clipes de seu filme, fazer uma audição musical, e conversar com o artista/autor e comprar sua obra. Esta é nossa ideia, primeira, que substituirá a antiga feira de livros que só tem contemplado um interesse comercial, sem sintonia (inclusive econômica) com o COLE e a ALB.

5) Sessões Diálogos ALB significam três tematizações que a ALB propõe para conversar com outras associações afins política e academicamente. Ocorrerão ao final do dia, e interessarão, particularmente, aos pesquisadores e membros de associações convidadas para vir ao evento.

Já é possível notar que faremos um esforço para ampliar os sentidos de leitura no evento, e, ao mesmo tempo, evitarmos o excessivo número de participantes. Uma das nossas ideias é propor que haja um número máximo de inscrições para as comunicações em cada uma das modalidades.

Cronograma

Fevereiro de 2011 – Finalização da proposta estrutural do evento – diálogo entre diretoria, associados, coordenadores de eixos temáticos do evento e roda de pesquisadores da ALB.

Março de 2011 – Indicação de todos os convidados (comunicação oral, minicursos, conferência)

Março e Abril de 2011 – Solicitação de financiamentoMarço e Abril de 2011 – Inscrições de trabalhos

Maio de 2011 – Seleção dos trabalhos

Junho de 2011 – Divulgação dos resultados e apresentação da programação final do evento.



Diretoria da ALB - Gestão 2011-2012

Presidente - Antonio Carlos Amorim

Vice-Presidente - Gabriela Fiorin Rigotti

1ª Secretária - Alik Wunder

2ª Secretária - Ana Lúcia Horta Nogueira

1ª Tesoureira - Davina Marques

2º Tesoureiro - Ubirajara Alencar Rodrigues

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

UERJ TERÁ EM MARÇO NOVA LIVRARIA

UERJ terá nova livraria


A partir de março volta a funcionar na Universidade, no mesmo lugar onde já funcionaram outras livrarias, a República-EdUERJ. Na nova livraria também haverá um café, uma papelaria e um espaço para os autores lançarem suas obras, em especial professores da instituição. Segundo o Reitor Ricardo Vieiralves, a escolha foi feita por meio de licitação pública no final de 2010, como determina a lei.

A proposta é que a nova livraria opere em conjunto com a editora da Universidade, funcionando como ponto de venda para todos os títulos publicados pela EdUERJ, com preços diferenciados, e continue a comercializar livros de editoras universitárias que são difíceis de encontrar.

A livraria aceitará pedidos de títulos sob encomenda e pagamentos por meio de cartões de crédito e de débito, com possibilidade de parcelamento. Os professores da Universidade poderão consignar suas obras diretamente na livraria e os visitantes também serão beneficiados com descontos especiais.











terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CURRÍCULO INTEGRADO E O PROEJA Pesquisador: LUIZ ANTÔNIO SALÉH AMADO

A Formação Integrada e o PROEJA

A formação integrada pode ser encarada como um dispositivo pedagógico cuja inserção nos espaços institucionais da educação permite colocar em discussão as relações e as práticas instituídas, favorecendo o surgimento de estratégias educacionais implicadas com a transformação. A pesquisa tem por objetivo conhecer o modo como se organizaram e como funcionam algumas das principais experiências de integração da educação profissional com a educação básica na modalidade de jovens e adultos, realizada no âmbito da Rede de Instituições Federais de Ensino Profissional. Considera-se não haver um jeito modelar de se trabalhar com a formação integrada e, por essa razão, as atenções estarão voltadas para as soluções encontradas para superar os obstáculos surgidos e para as estratégias utilizadas ao longo do processo, buscando o que há de criativo, participativo e construtivo em cada uma das diferentes experiências que se propuseram a implantar esta modalidade de educação. Financiadores: FAPERJ, FIOCRUZ

Luiz Antônio Saléh Amado é professor da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense FEBF/UERJ e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana PPFH/UERJ.http://www.ppfh.uerj.br/

sábado, 29 de janeiro de 2011

Para uma genealogia da noção de autoria em literatura


Título Para uma genealogia da noção de autoria em literatura

Autor ALMEIDA, L.P.

Organizador Maria Marta Furlanetto e Osmar de Souza

Tradutor

Local Florianópolis - SC

Coord. Editorial

Projeto Gráfico

Ilustrador

Editora Insular

Data 01/07/2006

Nº de Páginas 65-84

Formato

Coleção

Idioma

Palavra-chave autoria, Foucault, genealogia, literatura

Sinopse Capítulo de livro publicado em "Foucault e a autoria".

Por que leitura?

 
AÇÕES PEDAGÓGICAS PARA A FORMAÇÃO DE COMUNIDADES LEITORAS: A BAIXADA FLUMINENSE EM QUESTÃO

AUTOR: Maria da Conceição do Nascimento Gomes FEBF/UERJ sob a orientação de Luiz Antônio Saléh.

I - INTRODUÇÃO AO OBJETO

Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza compôs as suas espécies.”
Machado de Assis

Ler é uma conquista. É a apropriação justa dos códigos e símbolos em operações cognitivas que permitem nos reconhecermos pertencentes ao mundo. Fazemos através da oralidade e da escrita julgamentos, levantamos hipóteses, comparamos enunciados, revelamos situações, desvelamos discursos. A leitura e a escrita são essenciais à prática cidadã, pois fornecem os instrumentos de construção e resistência aos constantes embates do mundo social. São elementos revigorantes das idéias, tornando presente antigas formas de pensar e agir e transmitindo a possibilidade de futuro. Assim, nos tornamos expandidos e potencialmente existentes.
A Escola é o principal ambiente para a formação de leitores, uma vez que instituída para ser um espaço de difusão de saberes, permite a sociabilidade dos conhecimentos sistematizados historicamente. Promover o domínio da leitura e da escrita ao longo da vida escolar é condição sine qua non para o início da superação de um dos maiores problema da educação em nosso país: a promoção do acesso com qualidade, tornando efetiva a aprendizagem, instituindo o direito de aprender.
Atualmente, a sociedade brasileira conta com mais de 97% das crianças de 07 a 14 anos inseridas no ensino fundamental. Este indicador revela a existência de uma geração que teve acesso ao espaço educacional formal, logo o dever de formá-la na valorização da leitura, no domínio do código escrito, na perspectiva crítica para avaliar as informações que recebe, para produzir sentidos em sua prática cotidiana.
A ampliação do acesso ao livro e à leitura fazem parte de estratégias de construção da cidadania ativa. A ONU em seu último Relatório de Desenvolvimento Humano incluiu o acesso a bens, serviços e equipamentos culturais como componentes do Índice de Desenvolvimento Humano. Sendo assim, o IDH posiciona as políticas públicas culturais a grau de prioridade, igualmente à saúde, à educação e a outras questões vitais. Longe de ser interpretada apenas como manifestação artística, a cultura conjugada à educação formam a base do desenvolvimento social. A separação conceitual entre o que é ação cultural e o que é ação educativa, em se tratando da formação de leitores no Brasil, provocou a ausência de políticas integradas para a formação de leitores críticos no país, durante longos anos. A falta de um conjunto de ações integradoras sobre este tema tornava fragmentada e frágil as políticas de médio e longo prazos para a democratização do acesso ao livro e aos instrumentos de mediação de leituras.
Segundo a última pesquisa sobre o analfabetismo (Mapa do Analfabetismo no Brasil, publicada pelo MEC em 2009) existem no Brasil 16,3 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever pelo menos um bilhete simples. O mais contraditório é que 35% dos analfabetos já frequentaram a escola. A pesquisa denominada Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF) classifica em três os níveis de leitura: no nível 1 (rudimentar) estão as pessoas que conseguem apenas ler títulos ou frases; no nível 2 (básico) estão aquelas que conseguem ler textos curtos; e no nível 3 (pleno) encontram-se aquelas pessoas capazes de ler textos mais longos, localizar e relacionar mais de uma informação, comparar vários textos e identificar fontes.
Logo, apenas um em cada quatro jovens e adultos brasileiros de 15 anos ou mais consegue compreender totalmente as informações contidas em um texto e relacioná-las com outros dados. Configura-se, assim, um quadro perverso de exclusão social, que indica que cerca de três quartos da população brasileira não detêm os meios de ler e interpretar o mundo a sua volta. Em se tratando, especialmente, nos catorze (14) municípios da Baixada Fluminense, esta questão da ausência da leitura competente ainda é mais grave.
Sabe-se que após a criação do PNLL (Plano nacional do Livro e Leitura) por ação do Ministério da Educação, tornou-se recomendável que as escolas tenham seus projetos de sala de leitura. Objetivamente, as escolas não são homogêneas, diferem uma das outras a partir de critérios que vão desde localização, classe social, tipo de equipe pedagógica, corpo docente, corpo discente, expectativa dos pais até a questão da gestão dos governos responsáveis, mas esta orientação vem sendo seguida, com variações na maior parte das escolas das redes públicas do país. Um exemplo da importância das políticas públicas de Estado atuando de forma sistemática sobre os setores fundamentais da sociedade, todavia, sabe-se que não basta a sala de leitura existir, é necessário intervenção qualitativa com a aquisição de acervo atualizado e uma política instaurada no currículo escolar que reconheça o livro e a leitura como instrumentos do desenvolvimento intelectual, emocional e moral dos alunos.
Esta pesquisa pretende analisar de que maneira as escolas públicas municipais na Baixada Fluminense viabilizam ou não a formação do leitor. Sendo o principal espaço para a difusão do livro e da leitura, resta verificar os modelos de relações em seu interior, a composição do espaço físico , os diálogos em torno da importância do livro. Quando precisamos escrever sobre algo que lemos, o trabalho com a escrita começa com o processamento da leitura não apenas do texto em questão, mas iniciando a partir de leituras anteriores que formaram para quem vai escrever uma espécie de corpus discursivos. Desse modo, a formação de leitores , de fato é um fenômeno social e integrado às ideologias subjacentes as quais as práticas de leitura e escritas estão inseridas.

II- OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL:

  • Analisar as ações governamentais locais e os dispositivos pedagógicos existentes no interior da escola na construção/desconstrução de comunidades leitoras na Baixada fluminense.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

  • Observar a formulação/execução, por parte dos municípios da Baixada Fluminense,dos Planos Municipais do Livro e da Leitura (PMLL);

  • Verificar a sustentabilidade dos espaços de leitura dentro da escola e fora dela;

  • Conhecer as estratégias de estímulo à leitura realizadas pelos docentes e equipe técnico-pedagógicas;

  • Identificar como se articulam os efeitos do PNLL no cotidiano da escola;

III- REFERENCIAIS TEÓRICOS
Nos relatos de algumas pessoas, inclusive de atuais professores, afirma-se o papel secundário desempenhado pela escola na promoção do livro e da leitura. Falam da leitura forçada, leitura da obra para responder a questões esquematicamente formuladas em provas, e exames. Não deveria ser assim. Esta ação, talvez tivesse sido o maior motivo do afastamento e desestímulo à leitura e, consequentemente, da falta de habilidade com o código escrito. Antes de ser uma má-vontade dos indivíduos, é uma prática que se naturaliza, em especial, por aquela que deveria ser sua promotora, a escola. Tende-se, às vezes, a pensar a escola em si, como entidade abstrata, separada das relações de dominação instauradas nos enfrentamentos hegemônicos e contra-hegemônicos ocorridos na sociedade. Nesse sentido, a pesquisa em questão se situa no interior da crítica que reconhece a existência de uma escola tão pobre quanto os pobres que nela frequentam, assistencialista e minimizada em seu fazer pedagógico.
Uma política de Estado se não for bem implementada pelos atores sociais se torna inócua e sem credibilidade, logo inserir esta discussão que a leitura é um ato de produção de sentidos sujeito à variáveis diversas, da ordem do linguístico, social, histórico, econômico fisiológico, dentre outros. Sabe-se, também, que quando a escola decide desenvolver atividades emancipatórias em torno da leitura, acaba expandido para as outras disciplinas escolares melhores resultados.
Desta forma, é possível elaborar e difundir ações pedagógicas que implementem a leitura crítica e o gosto pela literatura, mas de que forma isto acontece? Se não acontece, o que impede tal ação? Como os elementos internos à escola agem em relação a esta questão? Será de grande valia dialogar com teoria crítica da Escola de Frankfurt (Adorno, Walter Benjamim) e com
os Modos de Subjetivação contemporâneos discutidos por Michel Foucault.
Não é arriscado dizer que a escola criou uma geração de pessoas que solicitadas a escrever tremiam diante da folha em branco, com certeza, porque seus textos seriam lidos para serem corrigidos. Decorre, então a pouca habilidade, não apenas da escrita, mas também da leitura que ficou resumida a fragmentos ou a leitura por encomenda de autores pré-definidos para serem lidos mecanicamente como paradidáticos. O prazer do texto fica inviabilizado, devido a tantas cerceamentos e limites interpretativos. A literatura passa a ser encarada ora como devaneios de uma determinada época histórica, ora como um saber ultrassofisticado, de pouca utilidade para os escolares.
Tomando por referência os ensaios filosóficos de Walter Benjamim, entende-se a centralidade da narrativa como espaço de diálogo e rememoração do sujeito , não mais preso a uma individualidade em si, mas para a coletividade. Para Benjamim, a dificuldade dos indivíduos em comporem suas próprias narrativas era consequência do definhamento da experiência do homem moderno. Neste caso, não se diferencia Modernidade de Pós-modernidade, segue-se a idéia de que este processo continua se acentuando.
Mas, qual o entendimento sobre experiência? Por que diferenciá-la de vivência? Benjamim, estabelece a diferenciação entre experiência(o que é vivido, pensado, narrado) e vivência ( reação a choques). A vivência encontra-se num campo da finitude, a ação se esgota no momento da realização. A experiência, por sua vez, é a ação contada, um ao outro, compartilhada se tornando infinita. Possui caráter histórico, de permanência, coletivo, para além do tempo vivido. A formação de leitores, portanto, concretiza-se através da experiência. Experiência esta, individual e coletiva ao mesmo tempo.
A escola tende a presentificar a leitura , tornando fragmentada, caso eleja um cânone para dialogar, desprezando, assim, outros autores ou, ao contrário, a ausência de leitura com viés literário mais sistematizada. Através de grades curriculares, horário das aulas, do espaço físico, da percepção sobre a biblioteca (infelizmente, ainda o lugar do castigo), no espaço escolar também é percebido a falta de tempo que caracteriza a contemporaneidade. Este tempo abreviado será adversário dos processos de formação de leitores críticos. A leitura formadora , ou seja, constituidora de sujeitos sociais engendra reflexões para além do momento em que acontece. Este sintoma é, na verdade, nosso processo de desumanização. Adorno, na obra educação e emancipação sinaliza para o termo da auto-reflexão crítica, para ele, devemos engendrar situações na qual seja possível ajudar a frieza a adquirir consciência de si própria, de sua consciência coisificada, de sua indiferença pelo outro.
Outro importante referencial teórico para esta pesquisa são as análises de Michel Foucault acerca do que ele chamou dispositivos. No caso da escola , entende-se que ela é o resultado dos dispositivos que a construíram. De início, há um deslocamento da noção de poder que Foucault opera em oposição a noção clássica de poder. O poder é concebido não como algo que se possui , nem como fixo, nem tampouco centralizado , mas como relação, como móvel e fluido, composto de capilaridade, estando em toda parte, provido de verticalidade e horizontalidade.
A noção de saber, também é transformada. O saber não é o outro do poder, não é externo ao poder. Saber e poder são mutuamente dependentes. O saber não existe que não seja a expressão da vontade de poder. Ao mesmo tempo, não existe saber que não se utilize do poder para fazer valer .Os aparatos discursivos e institucionais definem como tal aqueles que o integram. Compreender como a escola disponibiliza discursos, dispositivos pedagógicos(currículos, disciplinas, gestos, símbolos) para a formação de qual tipo de leitor é desvelar os processos de significação envolvidos.

IV- CRONOGRAMA

ATIVIDADES     /     PERÍODOS
1
2
3
4
5
6
7
8
9

10
11
12
1
Levantamento de literatura
X
 X
 X









2
Montagem do Projeto



 X








3
Coleta de dados




X
 X
 X





4
Tratamento dos dados







 X




5
Elaboração do Relatório Final








 X
 X
X

6
Revisão do texto










X

7
Entrega do trabalho











X



V- MARX, FOUCAULT E NIETZSCHE: Influências e aspectos relevantes
Os postulados Marxistas que criticam as relações capital X trabalho presente nos trabalhos de vários autores contemporâneos confirmam a atualidade da crítica marxista para a interpretação dos projetos societários em disputa . O desenvolvimento capitalista se alimenta da desigualdade; antes de ser uma deformação a ser corrigida , é funcional ao patrimonialismo ,à concentração da renda e da propriedade. Assim, apropriar-se deste referencial , não como verdade revelada, mas como possibilidade de expansão da análise em uma sociedade dividida em classes e agrupamentos antagônicos e historicamente constituídos. Os aspectos atuais dos problemas da escola pública brasileira não podem ser estudados sem a compreensão do projeto de sociedade engendrado pelas burguesias no plano nacional e internacional. Junto a esta dimensão, faz-se necessário analisar as subjetividades que produzem e reproduzem as relações de dominação erguidas pelos discursos e instituições nos vários planos da vida. Foucault e Nietzsche propõem o questionamento do que estabeleceu como verdade, ciência e saber abrindo espaço para outras interpretações, outros arranjos metodológicos, outras combinações existentes na composição do mundo.
A presença de Michel Foucault desloca o pesquisador de um suposto “descanso” em determinados paradigmas num trabalho incessante de desconstrução que antes de ser desvio inconsequente apresenta-se como ferramenta no desvelamento de uma microfísica do poder, do saber e dos discursos constituídos sobre bases em que se assentam crenças pelas quais estamos enrredados. Para tanto, a influência de Nietzsche nos trabalhos de filósofos contemporâneos , como o próprio Foulcault, Deleuze, Derrida, Guattarri, promove uma renovação conceitual para o exercício da transformação. Longe do rótulo de irracionalismo, Nietzsche opera num campo da transvaloração dos valores. A metáfora do filosofar com o martelo se situa, antes de tudo, no repensar a história do conhecimento que para ele está repleta de vontade de poder e, consequentemente, niilismo. Logo, as ilusões sobre a idéia de futuro, progresso, a crença na ciência e no pensamento como libertação nos quais se ergueram teorias, dentre estas, algumas dogmáticas e simplificadoras. O diálogo com estes autores torna esta pesquisa mais um elemento de resistência e tentativa de composição teórica e prática junto a outras manifestações em defesa do livro, da leitura e da escola pública numa região em que a precariedade dos serviços públicos , o preconceito sobre o território e a cultura dos habitantes e a violência insistem em continuar.